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ORIGEM DAS ESPÉCIES

uma coincidência bizarra, se fosse encontrada apenas uma ou duas vezes. Mas, nas regiões em que as Leptalis copiam as Itomia, encontram-se outras espécies pertencendo aos mesmos géneros, imitando-se umas às outras com o mesmo grau 1: semelhança. Enumeram-se até dez géneros contendo espécies que copiam outras borboletas. As espécies copiadas e as espécies copistas habitam sempre as mesmas localidades, e não se encontram as plagiárias nunca em pontos afastados dos que ocupam as espécies imitadas. As plagiárias contam habitualmente poucos indivíduos, as espécies copiadas aparecem as nuvens quase sempre. Nas regioes em que uma espécie de Leptalis copia a Itomia, há algumas vezes outros lepidópteros que imitam também a mesma itómia; de modo que, num mesmo lugar, podem encontrar-se espécies pertencendo a três géneros de borboletas, e mesmo uma falena, assemelhando-se todas a uma borboleta pertencente a um quarto género. É necessário notar especialmente, como o demonstram as séries graduadas que se podem estabelecer entre muitas formas de leptalis copistas e formas copiadas, que existe um grande número que são simples variedades da mesma espécie, enquanto que outras pertencem, sem dúvida alguma, a espécies distintas. Mas porque razão, pode perguntar-se, é que certas formas são sempre copiadas, enquanto que outras gozam sempre o papel de imitadoras? M. Bates responde de uma maneira satisfatória a esta questão demonstrando que a forma imitada conserva os seus caracteres habituais do grupo a que pertence, e são as imitadoras que mudam a aparência exterior e deixam de semelhar-se às suas mais próximas aliadas.

Somos levados em seguida a procurar a razão de certas borboletas ou certas falenas revestirem tão frequentemente a aparência exterior de uma outra forma completamente distinta, e porque, com grande perplexidade dos naturalistas, se entrega a natureza a semelhantes disfarces. M. Bates, a meu pedido, forneceu a verdadeira explicação. As formas copiadas, que são sempre abundantes em indivíduos, devem habitualmente escapar em grande escala à destruição, pois que de outra maneira não existiriam em quantidades tão consideráveis; ora, possui-se hoje a prova de que não servem de presa às aves nem aos outros animais que se nutrem de insectos, por causa, sem dúvida, do gosto desagradável que têm. As imitadoras, por uma parte, que habitam a mesma localidade, são comparativamente muito raras, e pertencem a grupos que o são igualmente; estas espécies devem, por isso, estar expostas a qualquer perigo habitual, porque de outra maneira, atendendo ao número de ovos que põem