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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

nagens desconhecidas ou com uma gama de anônimos que também foram protagonistas da Independência[1].

Em primeiro lugar, é possível recuperar os anônimos. Aqueles cujo rosto ou nome, muitas vezes, não se encontram, mas cujos traços que deixaram revelam outras interpretações da Independência do Brasil. Refiro-me aqui aos autores realmente desconhecidos dos panfletos manuscritos entre 1821 e 1823. Dificilmente, será possível saber um dia quem foram[2]. Chamados algumas vezes de papelinhos ou pasquins, pois se apresentavam em folhas soltas, ora verticais, ora horizontais, eram colocados nas paredes e postes dos locais públicos, como demonstram os restos de caliça nos poucos exemplares encontrados hoje nos arquivos. Sempre sem indicação de autoria, revelavam por meio de sua escrita um estilo simples e direto, buscando causar impacto sobre o receptor e facilitar a compreensão da mensagem. Encontravam-se repletos de erros de grafia como, por exemplo, em proclamação intitulada Às Armas Portugueses às Armas amantes da Vossa Nação, em que se pode ler no manuscrito original: “Às Armas avitantes desta Cidade já he tempo de quebrares os Grilhoins em q. atanto tempo tendes Vivido…”[3]. Tal fato demonstra que se tratava, provavelmente, de um escrito redigido por indivíduos que apresentavam algum grau de estudo, mas não eram, certamente, letrados diplomados em Coimbra ou versados nas ideias do século das Luzes que, regra geral, são considerados como personagens-chave do processo que permitiu a entrada do antigo Reino Luso-Brasileiro na modernidade política, conduzindo-o à formação de um novo Estado independente de Portugal. Por conseguinte, se os panfletos impressos daquela mesma época revelam intenso debate político entre letrados

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  1. Para o estudo dos protagonistas anônimos, cf. VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas anônimos da História: micro-história. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
  2. Para o estudo dos panfletos manuscritos, cf. CARVALHO, José Murilo de; BASTOS, Lucia; BASILE, Marcello. Às armas cidadãos! … Op. cit.
  3. RIO de Janeiro. Lata 195, maço 06, pasta 02. Rio de Janeiro: Arquivo Histórico do Itamarati, 1821. Transcrito em CARVALHO, José Murilo de; BASTOS, Lucia; BASILE, Marcello. Às armas cidadãos! … Op. cit., p. 132-133.