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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

ro”[1]. Toda essa renovação da historiografia forneceu pistas inovadoras em relação ao processo de separação entre Brasil e Portugal, mas, ao se referir aos vultos da Independência, avançou pouco em identificar aqueles que, membros dos mais diversos segmentos da sociedade, permaneceram na sombra, embora tenham lutado e interferido de algum modo nos rumos da cisão. Sem dúvida, os estudos abriram novas perspectivas para se analisar o papel das camadas médias e populares ao longo desses anos[2]. Mas muito ainda é necessário se fazer.

2. Anônimos da Independência e seus horizontes de expectativas

Trazer à tona uma documentação rica, em sua maioria inédita ou pouco explorada pelas pesquisas históricas sobre o período, como pasquins, panfletos manuscritos e impressos, jornais ou mesmo correspondências e documentos diversos, pode fornecer pistas novas sobre o movimento constitucionalista que o Brasil conheceu em 1821, bem como interpretações distintas sobre seu processo de separação de Portugal. Esse material constitui a história de um tempo, pois os fatos e personagens que aí se encontram narrados podem ser vistos como registros com que os historiadores elaboram a reconstrução de um momento do passado. São memórias, enfim, que, ao apresentar distintas visões de um mesmo fato, servem como fundamentos da história porque servem também para pensar e repensar a história do Brasil. Nesse caso, algumas vezes é possível se deparar com perso-

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Forum

  1. MELLO, Evaldo Cabral de. A outra independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824. São Paulo: Editora 34, 2004. p. 11.
  2. Como exemplo, para a questão dos escravos cf. REIS, João José. O jogo duro do dois de julho: o “partido negro” na independência da Bahia. In: REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 79-98. Para as camadas populares, cf. CARVALHO, José Murilo de; BASTOS, Lucia; BASILE, Marcello (org.). Às armas cidadãos! Panfletos manuscritos da Independência do Brasil (1820-1823). São Paulo: Companhia das Letras, 2012.