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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

em Portugal. Eram profecias: “sumamente verdadeiras, além de misteriosas; e com evidência se tem verificado nas competentes épocas assinaladas, sem faltar um só ponto, dos fatos premeditados”[1]. Profecias, sem dúvida, mas não os prognósticos da linguagem moderna, na perspectiva de Koselleck: “a história concreta amadurece em meio a determinadas experiências e determinadas expectativas”[2]. No caso de Antônio Barbosa, não era essa visão que norteava seu horizonte de expectativa.

4. Mulheres: membros participantes da sociedade civil?

Por fim, ainda pode ser destacado um grupo de esquecidas - as mulheres no processo de independência. Em uma sociedade profundamente hierarquizada como a do Antigo Regime, é possível imaginar o papel quase invisível dessas senhoras. No entanto, sua presença pode ser detectada, além da efetiva atuação nas lutas de separação do novo Império, por cartas em jornais, por correspondência privada e até pela escrita de panfletos políticos. No último caso, por exemplo, encontram-se na Bahia os lamentos de uma baiana pela crise em que vira sua pátria, devido ao despotismo constitucional da Tropa Auxiliadora de Portugal, comandada pelo general Madeira de Melo. Dizia que se tratava de uma menina de 13 anos de idade que, em seu anonimato e fechada em seu quarto, escrevera versos “lavada em lágrimas”[3]. Outra, Maria Clemência da Silveira Sampaio, foi considerada a primeira poetisa do Rio Grande do Sul[4].

A participação de mulheres enquanto membros integrantes da sociedade política, contudo, não deixou de ficar igualmente consignada em petições, requerimentos e cartas que reivindicavam seus

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  1. Ibidem, p. 57.
  2. KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição ... Op. Cit., p. 309.
  3. LAMENTOS de huma bahiana na triste crise, em que vio sua patria oppressa pelo despotismo constitucional da tropa Auxiliadora de Portugal. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1822, p. 3-4.
  4. MOREIRA, Maria Eunice (org.). Uma voz ao sul: os versos de Maria Clemência da Silveira Sampaio. Florianópolis: Ed. das Mulheres, 2003.