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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

[…] le problème de toute mémoire officielle est celui de la crédibilité, de son acception, et aussi de sa mise en forme. Pour qu’émerge dans les discours politiques un fonds commun de références qui peuvent constituer une mémoire nationale, un intense travail d’organisation et de mise en forme est indispensable pour surmonter le simple bricolage idéologique, par définition précaire et fragile.[1]


Em uma fina e instigante resenha sobre livro de Alain Corbin intitulado Le monde retrouvé de Louis-François Pinagot, sur les traces d’un inconnu, 1798-1876, cujo objetivo era escrever a biografia de um homem comum, que não possuísse traço particular, hostilizando qualquer tipo de heroicidade, Sabina Loriga faz uma crítica à ideia da “biografia invisível”, idealizada pelo autor, que sacrifica a qualidade de vida das figuras individuais que não surgem nunca como atores sociais, uma vez que não possuem nenhuma singularidade, nenhuma identidade. Desse modo, para Loriga, a redescoberta da biografia deve “dar voz a uma grande variedade de indivíduos”, preferencialmente aqueles excluídos da memória. Devem ser, contudo, indivíduos, que, de alguma forma, estejam inseridos em seus contextos como atores sociais de um processo histórico que lhes forneça alguma singularidade, ou seja, o seu pequeno x. Faz-se necessário “dar aos homens do passado, não apenas um nome, mas também algum traço de capacidade vital”[2]

Essa perspectiva de análise explica, em parte, o que desejo salientar neste artigo: uma outra abordagem da história da Independência do Brasil que possibilite trazer à tona os indivíduos esquecidos e desconhecidos desse processo. Tal questão não significa, contudo, escolher uma personagem não original, apenas um nome cuja trajetória se procura reconstituir sem inseri-lo no contexto mais amplo

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  1. POLLACK, Michael. Mémoire, oublie, silence. In: POLLACK, Michael. Vienne 1900: une identité blessée. Paris: Métailié, 1993. p. 28-29.
  2. Para as citações, ver LORIGA, Sabina. Alain Corbin: Le monde retrouvé de Louis-François Pinagot, sur les traces d’un inconnu, 1798-1876. In: COMPTES rendus: approches de l’histoire. Annales: Histoire, Sciences Sociales, Paris, ano 57, n. 1, p. 204-244, 2002. p. 240-242. Para o pequeno x, cf. Idem. O pequeno X: da biografia à história. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.