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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

Em 1823, após a independência do Brasil, já no bojo das discussões e tensões da Assembleia Constituinte, outro tipo de documento foi o de cartas escritas por mulheres que, algumas vezes, eram endereçadas a políticos e panfletários. Por exemplo, o caso daquelas de mulheres paraibanas publicadas no jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco, naquele ano, de autoria de Cipriano Barata e reproduzidas em outro periódico no Rio de Janeiro. A primeira era assinada por Leocádia de Melo Moniz, redigida em julho, que agradecia pelos escritos do redator que ensinavam a usar do Direito Nacional, excomungando o corcundismo e despotismo[1]. Mais duas cartas foram publicadas nesse periódico. Apesar de não reivindicarem direito de voto ou participação política, depreende-se dessas missivas que essas mulheres se colocavam em pé de igualdade com os homens em função de seu patriotismo e da luta pela liberdade[2]. Além disso, as cartas revelavam igualmente que essas senhoras acompanhavam as discussões políticas da época, haja vista que a mencionada dona Leocádia solicitava tornar-se assinante dos folhetos de Cipriano Barata, que denominou essas mulheres de “espartanas valorosas da Paraíba”. Deve-se ressaltar que Cipriano Barata era considerado um liberal radical que, eleito deputado à Assembleia Constituinte de 1823 pela Bahia, negou-se a participar, preferindo utilizar-se da imprensa para defender seu ideário[3].

Por fim, vale lembrar a já mencionada Maria Bárbara Garcez Pinto, senhora do engenho de Aramaré, na Bahia. Nascida em Portugal, lá se casou com o brasileiro Luís Paulino d’Oliveira Pinto da França, deputado pela província da Bahia nas Cortes de Lisboa. Aqui, criaram família. Sua atuação foi marcante ao longo das guerras de Independência, quando seu marido, acusado de favorável aos portugueses,

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  1. SENTINELA DA LIBERDADE NA GUARITA DE PERNAMBUCO. Recife, nº 32, 23 de julho de 1823.
  2. Ibidem, n. 39, 19 ago. 1823; Ibidem, n. 50, 24 set. 1823.
  3. Ibidem, n. 32, 23 jul. 1823. Não foi possível encontrar ainda dados sobre Leocádia de Melo Moniz. Para um estudo de Cipriano Barata, cf. BARATA, Cipriano Sentinela da liberdade e outros escritos. Org. e ed. Marco Morel. São Paulo: Edusp, 2008.