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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

africanos e asiáticos[1]. Na mesma perspectiva, no início da década de 1970, outros estudos históricos interpretaram a independência como o momento inicial de um longo processo de ruptura, resultado da desagregação do sistema colonial e da montagem do Estado nacional[2]. Em outra linha, Maria Odila Silva Dias[3] demonstrou que a separação política não trouxe em seu bojo qualquer ruptura, mas abriu caminho para uma reelaboração do passado colonial que pode ser explicada em função dos interesses das elites metropolitanas e coloniais, que ganharam maior força com a vinda da Corte em 1808. A perspectiva adquiriu maior amplitude com o trabalho inovador de José Murilo de Carvalho[4].

Nas últimas décadas do século XX, outras demandas da historiografia, que constataram as permanências de longa duração da formação social brasileira, possibilitaram o surgimento de uma série de estudos, tanto no Brasil como em Portugal, e passaram a procurar inserir a Independência na dinâmica mais profunda do Antigo Regime, destacando os fatores políticos e culturais que provocaram uma disputa pela hegemonia no interior do império luso-brasileiro[5]. Dentro dessa ótica mais recente de trabalhos, outras preocupações

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Forum

  1. PRADO JUNIOR, Caio. Evolução política do Brasil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1933.
  2. NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979; MOTA, Carlos Guilherme. 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972.
  3. DIAS, Maria Odila Silva Dias. A interiorização da metrópole (1808-1853). In: MOTA, Carlos Guilherme. 1822: dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972. p. 160-184.
  4. Cf. CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
  5. SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Movimento Constitucional e separatismo no Brasil: 1821-1823. Lisboa: Horizonte, 1988; ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do Império: questão nacional e questão colonial na crise do Antigo Regime português. Porto: Afrontamento, 1993; LYRA, Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso império: Portugal e Brasil: bastidores da política: 1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994; NEVES, Guilherme Pereira. Do Império Luso-Brasileiro ao Império do Brasil (1789-1822). Ler história, Lisboa, v. 27-28, p. 75-102, 1995; NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira. O Império Luso-Brasileiro redefinido: o debate político da independência (1820-1822). 'R'evista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 156, n. 387, p. 297-307, 1995; NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira. Corcundas e constitucionais: a cultura política da Independência (1820-1822). Rio de Janeiro: Revan, 2003; BERBEL, Márcia Regina. A nação como artefato: deputados do Brasil nas cortes portuguesas (1821-1822). São Paulo: Hucitec, 1999; SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como corpo autônomo 1780-1831. São Paulo: Editora Unesp, 1999.