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Mauricio continuava sacudindo-se.

— O mal que tenho, vem do leite que bebi — dizia elle no entretanto.

— Hum! — acudiu a ti'Anna com um gesto de soberba. — Conta-me d'essas! O que vos valeu, meus fidalguinhos de torrão de assucar, foi trazer-vos eu a estes peitos, senão o que seria feito do vosso corpinho de vime? Olh'agora! ieis como foram indo vossos irmãos mais velhos, e aquelle anjo de vossa irmã, que ainda hoje me resta a pena de não ter creado tambem. Mas quem adivinha vae para as casinhas.

— Aos preparativos que estou vendo — observou Mauricio — ha grande fornada para hoje.

— É como vês. E não minguam bôcas que a comam. Senhor nos não falte com estas côdeas.

— E o bolo que não esqueça.

— Eram bons tempos aquelles em que vocês ambos o comiam como se fosse maná! Esquecer! Olh'agora! Não ha de esquecer, não, se Deus quizer, que não falta por ahi gente necessitada, com quem se reparta. Vá, vá, raparigada! não se me ponham agora paradas a olhar para as moscas, que o serviço não espera! Olh'agora! Deita-me o centeio n'aquella massa, pasmada, avia-te! Parece que nunca viram um rapaz! Bem tirado das canelas é elle, salvo seja; mas isso não basta! Olh'agora! Mas que milagre foi este que te trouxe por aqui a estas horas?

— Um passeio...

— Um passeio!... Hum! ahi anda moiro na costa. Olha lá se me desinquietas coisa que me pertença, que tens de te haver depois commigo... Eu ainda tenho um par de sobrinhas que são moças de mão cheia. Ora olha lá. Quem te désse o juizo de Jorge! Aquillo é outro estôfo! É verdade — continuou ella, dando emphase á interrogação com o poisar das mãos nos quadris — dizem-me que elle é quem dirige agora os negocios lá em casa.

— Ha muito tempo já.

— Pois foi bem pensado! Sim, senhores. Porque olha que eu nunca gostei do frade, Deus me perdoe; e