tiam á maneira do campo, de jaqueta de alamares, faxa vermelha á cinta, chapéo de abas largas, de espingarda ao hombro, cães em redor, e as victimas das suas façanhas venatorias pendentes ao tiracolo, como tropheus de combate.
O padre respondeu á Anna do Védor:
— Ó mulher, guarde lá a sua lingua que não nos tira a sêde que trazemos, e dê-nos antes uma pinga do verde, porque o nosso pichel vae vazio de todo.
E com a maior sem-cerimonia entraram para o pateo, poisando as espingardas e os apparelhos de caça.
O doutor sentou-se nos degraus da porta da cozinha, o padre na pilha de lenha que havia no quinteiro.
A Anna do Védor, com as mãos na cinta, observava-os e proseguiu na objurgatoria:
— Com que então o snr. abbade, e o snr. doutor, e o snr. seu mano entendem que as leis d'estes reinos não foram feitas para vocemecês?
— A que vem agora essa cantilena, ó mulher? Dê-nos vinho — insistiu o padre.
— A que vem? — tornou a ti'Anna — ahi está o meu Clemente que melhor o póde dizer.
Os dois voltaram-se e viram Clmente que, pela sua vez, appareceu á porta.
— Ah! ah! snr. regedor!
— Pelos modos o homem está zangado comnosco por lhe escondermos o filho do soqueiro, queres tu vêr?
Mauricio tomou o partido de Clemente.
— Bem sabem que é da responsabilidade d'elle.
— Ora deixa-te de contos — atalhou o doutor.
— O peior é que, vistos os autos, não temos vinho — fez notar o padre.
— Está enganado, snr. abbade — veio-lhe á mão Clemente — fosse um criminoso que me pedisse de comer e de beber, quando passasse á minha porta, eu, com ser regedor, não lh'o recusaria. O que a minha casa não ha de ser, isso não, é escondrijo de ladrões, de malvados e de refractarios, nem sei que grande gloria venha d'ahi a quem tanto mal faz á sociedade, não deixando que se cumpram as leis. O vinho ahi está.