Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/148

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— Olhos, cabellos, dentes, gesto, riso, figura, tudo uma perfeição — ampliou Mauricio.

— Onde desenterraste essa maravilha?

— Chegou aqui ha poucos dias.

— Não ponhas mais na carta.

— Já sei — interveio o doutor — fallaram-me n'ella. É a filha do Thomé da Herdade.

— Exactamente.

— E então ella sempre é essas coisas?

— Só te digo que eu ando cada vez mais doido por a rapariga. Isto cá dentro está em imminente perigo de explosão. Que admira, se nunca até hoje vi uma belleza assim?

— Estás bem bom. Ó rapaz, o mais que posso fazer é casar-vos. Conjungo vós — disse o padre, cantarolando.

— Em uma palavra, para vocês imaginarem o estado d'isto, basta que vos diga, que me custou a conter a indignação quando ouvi ha pouco a Anna do Védor dizer-me que a Bertha era um bom casamento para o filho.

— Ai, para o snr. regedor!

— É verdade.

— Então s. exc.ª tenciona tomar estado?

— E vamos lá a saber — informou-se o doutor — a rapariga é arisca ou accessivel?

— Por ora parece-me desconfiada apenas, mas...

— Como disseste que se chama? Bertha?

— Sim.


O padre cantarolou:

Bertha, Bertha, meus amores,
Bertha do meu coração.
És a rainha das flores,
Trai lari lari larão.

E, cantando, trepava o muro de um pomar para colher laranjas que de lá o estavam seduzindo.

— Deixa lá as laranjas; anda d'ahi — dizia o mano doutor, que seguia á frente do rancho.

— A casa do cidadão é inviolavel — acrescentou Mauricio.

— Sim, senhor — tornou o padre, já a cavallo no