Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/153

Wikisource, a biblioteca livre

pos. E ha mais, ha a firme resolução de os fazer respeitar aos outros, como lá se respeitam.

— Abranda-te, leão! Não estou disposto a luctar comtigo, apesar d'esses olhares ferozes. Esta menina far-me-ha mais justiça, reconhecendo que eu não a offendi...

— Não fallemos mais n'isso — acudiu Bertha friamente.

— Mas é um caso de consciencia — insistiu o abbade.

— Então ninguem tão habilitado para o decidir como um sacerdote — tornou-lhe Bertha, com desdem.

Gargalhada do mano bacharel.

— Chucha! Ora mette-te com ella, anda.

— Em coisas do coração — redarguiu o padre galanteadoramente — são melhores juizes do que os sacerdotes, as madamas.

Bertha contrahiu a fronte com desgosto e respondeu-lhe com maior severidade:

— Quando ellas teem um pae, podem elles tambem ser juizes. E o meu ahi vem.

Effectivamente chegava Thomé da Povoa.

O honrado fazendeiro, que tinha a sua opinião formada a respeito dos fidalgos do Cruzeiro, franziu o sobrolho, assim que os avistou com a filha.

Nem a presença de Mauricio bastou para tranquillisal-o.

Thomé conhecia de pequenos os rapazes da Casa Mourisca e sabia até que ponto se podia contar com o que em Mauricio havia de bom, e receiar do que n'elle havia de mau.

Depois a physionomia de Bertha denunciava que a conversação dos fidalgos não tinha sido demasiadamente apropositada.

Nem convinha á boa fama de uma casa, em que houvesse raparigas, a assiduidade de qualquer dos tres manos do Cruzeiro.

Tudo isto actuava no espirito de Thomé durante os instantes que precederam a sua introducção na scena.

— Olá! v. exc.as por aqui! Grande honra! grande honra!

— É verdade, Thomé — começou o padre a dizer —