Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/189

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o tal ratão, de quem suspeitamos, não muito longe do sitio, e já andavamos com a pedra no sapato.

— Ó Chico, olha que o Mauricio não está bom. Estes golpes repentinos...

— Qual! Se eu não acredito uma unica palavra do que vocês estão para ahi a dizer — tornou-lhe Mauricio, erguendo-se e passeiando na sala agitado.

— Não que a cousa é muito para se não crer — disse o doutor, principiando a vestir-se — uma rapariga de dezoito annos, que vem do collegio, ter um apaixonado?... Sim, o caso é tão raro!

— Vocês não conhecem Bertha.

— Tu, sim, que a conheces. Papalvo de olhinhos fechados que ainda anda a sonhar por este mundo com princezas encantadas — observou o padre, tirando de entre a roupa da cama um volume de Paulo de Koch, com que adormecêra na vespera.

— Então lá por que um homem sahe de noite de casa do Thomé, já não póde ser senão por amor de Bertha. É boa! — insistia Mauricio, contra a sua propria convicção.

— Sim, meu menino, sim; isso tudo e o mais que tu quizeres — respondeu-lhe o padre, apertando outro cigarro.

— Veremos o que tu pensas, assim que vires o tal homem — tornou o doutor.

— Ora mas digam-me: Pois não ha tanta gente em casa?

— Pois ha, ha.

— Então...

— Então tem vocemecê razão — concluiu impertinentemente o padre.

— Muito bem — propôz o doutor. — Para sahir de duvidas queres tu vir comnosco bater a mata esta noite para conhecer o coelho?

— Quero, sim.

— Muito me hei de rir esta noite! — exultou o padre, saltando abaixo da cama.

— Mas promettes não assassinares a pequena na furia do teu ciume?