—Visto isso, principiarei, e o que sinto é que seja para dar a v. exc.ª noticias assustadoras—preludiou o egresso.
—Assustadoras! Que é a final? Alguma insolente exigencia de credor.
—Nada, nada; a coisa é outra. Tracta-se do filho de v. exc.ª
—De Mauricio? Que fez elle?
—Não, senhor; não é do snr. D. Mauricio, que eu fallo.
—Então? É de Jorge?
—Justamente. Eu conto a v. exc.ª
E frei Januario principiou a expôr ao fidalgo os pormenores da discussão que tivera com Jorge ao jantar e a commental-a com reflexões proprias. Horas antes, esta communicação teria talvez produzido o effeito estupendo, que o egresso calculára; mas a prévia entrevista de D. Luiz com os filhos tirára toda a importancia á revelação. D. Luiz apenas franziu o sobrolho á parte mais demagogica das doutrinas do filho, mas esse mesmo signal de desgosto foi passageiro, e quando o procurador acabou a sua estirada confidencia, em vez da indignação e do espanto, com que esperava vêl-a acolhida, apenas escutou estas simples palavras, pronunciadas com a maior fleugma:
—E então que pensa d'isso, frei Januario?
Lá de si para si o padre replicou á pergunta com a sua expressão favorita de desapontamento—Lérias!—mas em voz alta não foi tão expressivo, e respondeu em phrase mais parlamentar:
—O que penso? Que hei de eu pensar? E v. exc.ª o que pensa? Eu por mim penso que anda aqui febre liberal; o veneno já está no sangue. Tão certo! Aquillo dá logo signal de si. Em elles principiando a cantar-me ladainhas a S. Trabalho, eu digo logo com os meus botões: «Pois sim, sim, estás arranjadinho.» O snr. D. Jorge conversou por ahi com algum mação. Quem sabe? Alguns d'esses engenheiros que estão na estalagem do Manco. Isto de engenheiros é gente que se não confessa; ou então são coisas do hortelão, que eu não seja quem sou se ainda não ha de dar que fallar n'esta casa;