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OS MAIAS

que lhe franzia os labios, sempre que Affonso da Maia fallava em «methodos.»

Depois, reclinando-se para as costas da cadeira e abrindo o leque, declarou, a transbordar d’ironia, que, talvez por ter a intelligencia curta, nunca comprehendera a vantagem dos «methodos»... Era á ingleza, segundo diziam: talvez provassem bem em Inglaterra; mas ou ella estava enganada, ou S.ta Olavia era no reino de Portugal...

E como Villaça inclinava timidamente a cabeça, com a sua pitada nos dedos, a esperta senhora, baixo para que Affonso dentro não ouvisse, desabafou. O sr. Villaça naturalmente não sabia, mas aquella educação do Carlinhos nunca fôra approvada pelos amigos da casa. Já a presença do Brown, um heretico, um protestante, como perceptor na familia dos Maias, causara desgosto em Resende. Sobretudo quando o sr. Affonso tinha aquelle santo do abbade Custodio, tão estimado, homem de tanto saber... Não ensinaria á creança habilidades de acrobata; mas havia de lhe dar uma educação de fidalgo, preparal-o para fazer boa figura em Coimbra.

N’esse momento, o abbade, suspeitando uma corrente d’ar, erguera-se da mesa de jogo a fechar o reposteiro: então, como Affonso já não podia ouvir, D. Anna ergueu a voz:

— ­E olhe que o Custodio teve desgosto, sr. Villaça. Que o Carlinhos, coitadinho, nem uma palavra sabe de doutrina... Sempre lhe quero contar o que succedeu com a Macedo.