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OS MAIAS

procure essa creatura, e que lhe offereça dez ou quinze contos de réis, se ella me quizer entregar a filha... No caso, está claro, que esteja viva... E quero que você saiba d’esse Alencar a morada da mulher em Paris.

O Villaça não respondeu, occupado a metter entre as camisas, bem no fundo da maleta, a caixinha com o alfinete. Depois, erguendo-se, ficou deante d’Affonso, a coçar reflectidamente o queixo.

— ­Então que lhe parece, Villaça?

— ­Parece-me arriscado.

E deu as suas razões. A menina devia ir nos seus treze annos. Estava uma mulher, com o seu temperamento formado, o caracter feito, talvez os seus habitos... Nem fallaria o portuguez. As saudades da mãe haviam de ser terriveis... Emfim, o sr. Affonso de Maia trazia uma extranha para casa...

— ­Você tem rasão, Villaça. Mas a mulher é uma prostituta, e a pequena é do meu sangue.

N’esse momento Carlos, cuja voz gritava no corredor pelo vovô, precipitou-se no quarto, esguedelhado, escarlate como uma romã. — ­O Brown tinha achado uma corujasinha pequena! Queria que o vovô viesse ver, andara a buscal-o por toda a casa... Era de morrer a rir... Muito pequena, muito feia, toda pellada, e com dois olhos de gente grande! E sabiam onde havia o ninho...

— ­Vem depressa, ó vovô! Depressa, que é necessario ir pol-a no ninho, por causa da coruja velha que se póde affligir... O Brown está-lhe a dar azeite.