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OS MAIAS

E foram entrando no fumoir, onde se ouviam as vozes do marquez, de Carlos, n’uma das suas sabias e prolixas cavaqueiras sobre cavallos e sport.

— ­Então? que tal? A mulher? foi a interrogação que acolheu o Taveira.

Mas antes de dar noticia da estreia da Morelli, a dama nova, Taveira reclamou alguma cousa quente. E enterrado n’uma poltrona junto do fogão, com os sapatos de verniz estendidos para as brazas, respirando o aroma do punch, saboreando uma cigarette, declarou emfim que não tinha sido um fiasco.

— ­Que ella, a meu vêr, é uma insignificancia, não tem nada, nem voz, nem escola. Mas, coitada, estava tão atrapalhada, que nos fez pena. Houve indulgencia, deram-se-lhe umas palmas... Quando fui ao palco, ella estava contente...

— ­Vamos a saber, Taveira, que tal é ella? inquiria o marquez.

— ­Cheia, dizia o Taveira collocando as palavras como pinceladas; alta; muito branca; bons olhos; bons dentes...

— ­E o pésinho? — ­E o marquez, já com os olhos accesos, passava de vagar a mão pela calva.

Taveira não reparara no pé. Não era amador de pés...

— ­Quem estava? perguntou Carlos, indolente e bocejando.

— ­A gente do costume... É verdade, sabes quem tomou a frisa ao lado da tua? Os Gouvarinhos. Lá appareceram hoje...