Saltar para o conteúdo

Página:Os Maias - Volume 1.djvu/177

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
167

Carlos não conhecia os Gouvarinhos. Em redor explicaram-lhe: o conde de Gouvarinho, o par do reino, um homem alto, de lunetas, poseur... E a condessa, uma senhora inglesada, de cabello côr de cenoura, muito bem feita... Emfim, Carlos não conhecia.

Villaça encontrava o conde no centro progressista, onde elle era uma columna do partido. Rapaz de talento, segundo o Villaça. O que o espantava é que elle podesse ter assim frisa de assignatura, atrapalhado como estava: ainda não havia tres mezes lhe tinham protestado uma letra de oitocentos mil réis, no tribunal do commercio...

— ­Um asno, um caloteiro! disse o marquez com nojo.

— ­Passa-se lá bem, ás terças feiras... — ­disse Taveira, mirando a sua meia de seda.

Depois fallou-se do duello do Azevedo da Opinião com o Sá Nunes, auctor d’El-Rei Bolacha, a grande magica da Rua dos Condes, e ultimamente ministro da marinha: tinham-se tratado furiosamente nos jornaes de pulhas e de ladrões: e havia dez interminaveis dias que estavam desafiados e que Lisboa, em pasmaceira, esperava o sangue. Cruges ouvira que Sá Nunes não se queria bater, por estar de luto por uma tia; dizia-se tambem que o Azevedo partira precipitadamente para o Algarve. Mas a verdade, segundo Villaça, era que o ministro do reino, primo do Azevedo, para evitar o recontro, conservava a casa dos dois cavalheiros bloqueada pela policia...

— ­Uma canalha! exclamou o marquez com um dos seus resumos brutaes que varriam tudo.