Saltar para o conteúdo

Página:Os Maias - Volume 1.djvu/266

Wikisource, a biblioteca livre
256
OS MAIAS

ao lado — ­mas desde então este homem de amor julgou-se fatal! Como elle dizia a Carlos, depois de tanto drama na sua vida quasi tremia, tremia verdadeiramente de fitar uma mulher...

— ­Passaram-se scenas com esta Suzanna! murmurou elle depois de um silencio em que estivera catando pelliculas nos beiços.

E, com um suspiro, retomou o Figaro. Houve outra vez um silencio no terrasso. Dentro, a partida continuava. Para lá da sombra do toldo, agora, o sol ía aquecendo, batendo a pedra, os vasos de louça branca, n’uma refracção d’ouro claro em que palpitavam as azas das primeiras borboletas voando em redor dos craveiros sem flor: em baixo, o jardim verdejava, immovel na luz, sem um bolir de ramo, refrescado pelo cantar do repuxo, pelo brilho liquido da agoa do tanque, avivado, aqui e além, pelo vermelho ou o amarello das rosas, pela carnação das ultimas camelias... O bocado de rio que se avistava entre os predios era azul ferrete como o céu: e entre rio e céu o monte punha uma grossa barra verde-escura, quasi negra no resplendor do dia, com os dois moinhos parados no alto, as duas casinhas alvejando em baixo, tão luminosas e cantantes que pareciam viver. Um repouso dormente de domingo envolvia o bairro: e, muito alto, no ar, passava o claro repique d’um sino.

— ­O duque de Norfolk chegou a Paris, disse Damaso n’um tom entendido e traçando a perna. O duque de Norfolk é chic, não é verdade, ó Carlos?