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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/268

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OS MAIAS

— ­Ora está s. ex.ª restabelecida! exclamou Damaso, atirando para o lado o jornal. Pois deixa estar, que agora é a occasião de lhe dizer na cara o que penso... Aquelle pulha!

— ­Tu exageras, murmurou Carlos, que se apoderara vivamente do jornal, e relia a noticia.

— ­Ora essa! exclamou Damaso, erguendo-se. Ora essa! Queria vêr, se fosse comtigo... É uma besta! É um selvagem!

E repetiu mais uma vez a Carlos essa historia que o magoava. Desde a sua chegada de Bordeus, logo que o Castro Gomes se installara no Hotel Central, elle fôra deixar-lhe bilhetes duas vezes — ­a ultima na manhã seguinte ao jantar do Ega. Pois bem, s. ex.ª não se dignara agradecer a visita! Depois elles tinham partido para o Porto; fôra ahi que, passeiando só na Praça Nova, vendo a parelha de uma caleche desbocada, duas senhoras em gritos, Castro Gomes se lançára ao freio dos cavallos — ­e, cuspido contra as grades, tinha deslocado um braço. Teve de ficar no Porto, no Hotel, cinco semanas. E elle immediatamente (sempre com o olho na mulher) mandara-lhe dois telegrammas: um de sentimento, lamentando; outro de interesse, pedindo noticias. Nem a um, nem a outro, o animal respondeu!

— ­Não, isso — ­exclamava Salcede, passeiando pelo terraço, e recordando estas injurias — ­hei de lhe fazer uma desfeita!... Não pensei ainda o quê, mas ha de amargar-lhe... Lá isso, desconsiderações não admitto a ninguem! a ninguem!