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OS MAIAS
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entre os marfins das escovas, os cristaes dos frascos, as tartarugas finas, havia outro objecto estravagante, uma enorme caixa de pó de arroz, toda de prata dourada, com uma magnifica safira engastada na tampa dentro d’um circulo de brilhantes miudos, uma joia exagerada de cocotte, pondo ali uma dissonancia audaz de explendor brutal.

Carlos voltou junto do leito, e pediu um beijo a Rosicler: ella estendeu-lhe logo a boquinha fresca como um botão de rosa; elle não ousou beijal-a assim n’aquelle grande leito da mãe, e tocou-lhe apenas na testa.

— ­Quando vens tu outra vez? perguntou ella agarrando-o pela manga do casaco.

— ­Não é necessario vir outra vez, minha querida. Tu estás boa, e Cri-cri tambem.

— ­Mas eu quero o meu lunch... Dize a Sarah que eu posso tomar o meu lunch... E Cri-cri tambem.

— ­Sim já podeis ambas petiscar alguma cousa...

Fez as suas recommendações á mestra, e depois, apertando a mãosinha da pequena:

— ­E agora adeus, minha linda Rosicler, uma vez que és Rosicler...

E não quiz ser menos amavel com a boneca, deu-lhe tambem um shake-hands.

Isto pareceu captivar Rosa ainda mais. A ingleza, ao lado, sorria, com duas covinhas na face.

Não era necessario, lembrou Carlos, conservar a creança na cama, nem tortural-a com cautellas exageradas...