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Página:Os Maias - Volume 1.djvu/40

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OS MAIAS

uma d’essas toilettes excessivas e theatraes que offendiam Lisboa, e faziam dizer ás senhoras que ella se vestia «como uma comica». Estava de seda côr de trigo, com duas rosas amarellas e uma espiga nas tranças, opalas sobre o collo e nos braços; e estes tons de ceara madura batida do sol, fundindo-se com o ouro dos cabellos, illuminando-lhe a carnação eburnea, banhando as suas fórmas de estatua, davam-lhe o esplendor d’uma Ceres. Ao fundo entreviam-se os grandes bigodes loiros do Mello, que conversava de pé com o papá Monforte — ­escondido como sempre no canto negro da frisa.

O Alencar foi observar «o caso» do camarote dos Gamas. Pedro voltára á sua cadeira, e de braços cruzados contemplava Maria. Ella conservou algum tempo a sua attitude de Deusa insensivel; mas, depois, no duetto de Rosina e Lindor, duas vezes os seus olhos azues e profundos se fixaram n’elle, gravemente e muito tempo. O Alencar, correu ao Marrare, de braços ao ar, a berrar a novidade.

Não tardou de resto a fallar-se em toda a Lisboa da paixão de Pedro da Maia pela negreira. Elle tambem namorou-a publicamente, á antiga, plantado a uma esquina, defronte do palacete dos Vargas, com os olhos cravados na janella d’ella, immovel e pallido d’extasi.

Escrevia-lhe todos os dias duas cartas em seis folhas de papel — ­poemas desordenados que ia compôr para o Marrare: e ninguem lá ignorava o destino d’aquellas paginas de linhas encruzadas que se accumulavam