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OS MAIAS
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deante d’elle sobre o taboleiro da genebra. Se algum amigo vinha á porta do café perguntar por Pedro da Maia, os criados já respondiam muito naturalmente:

— ­O sr. D. Pedro? Está a escrever á menina.

E elle mesmo, se o amigo se acercava, estendia-lhe a mão, exclamava radiante, com o seu bello e franco sorriso:

— ­Espera ahi um bocado, rapaz, estou a escrever á Maria!

Os velhos amigos de Affonso da Maia que vinham fazer o seu whist a Bemfica, sobretudo o Villaça, o administrador dos Maias, muito zeloso da dignidade da casa, não tardaram em lhe trazer a nova d’aquelles amores do Pedrinho. Affonso já os suspeitava: via todos os dias um criado da quinta partir com um grande ramo das melhores camelias do jardim; todas as manhãs cedo encontrava no corredor o escudeiro, dirigindo-se ao quarto do menino, a cheirar regaladamente o perfume d’um enveloppe com sinete de lacre dourado; — ­e não lhe desagradava que um sentimento qualquer, humano e forte, lhe fosse arrancando o filho á estroinice bulhenta, ao jogo, ás melancolias sem rasão em que reapparecia o negro ripanço...

Mas ignorava o nome, a existencia sequer dos Monfortes; e as particularidades que os amigos lhe revelaram, aquella facada nos Açores, o chicote de feitor na Virginia, o brigue Nova Linda, toda a sinistra legenda do velho contrariou muito Affonso da Maia.