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OS MAIAS
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e capazes de dar um bom socco, deve-se isso ao touro e á tourada de curiosos...

O marquez enthusiasmado bateu as palmas. Aquillo é que era fallar! Aquillo é que era dar a philosophia do toiro! Está claro que a tourada era uma grande educação phisica! E havia imbecis que fallavam em acabar com os touros! Oh, estupidos, acabaes então com a coragem portugueza!...

— ­Nós não temos os jogos de destresa das outras nações, exclamava elle, bracejando pela sala e esquecido dos seus males. Não temos o cricket, nem o football, nem o running, como os inglezes: não temos a gymnastica como ella se faz em França; não temos o serviço militar obrigatorio que é o que torna o allemão solido... Não temos nada capaz de dar a um rapaz um bocado de fibra. Temos só a tourada... Tirem a tourada, e não ficam senão badamecos derreados da espinha, a mellarem-se pelo Chiado! Pois você não acha, Craft?

Craft, do canto do sophá, onde Carlos se fôra sentar e lhe fallava baixo, respondeu, convencido:

— ­O que, o touro? Está claro! o touro devia ser n’este paiz como o ensino é lá fóra: gratuito e obrigatorio.

Damazo no entanto jurava a Affonso compenetradamente que gostava tambem muito de touros. Ah, lá n’essas cousas de patriotismo ninguem lhe levava a palma... Mas as corridas tinham outro chic! Aquelles Bois de Boulogne, n’um dia de Grand-Prix, hein!... Era de embatucar!