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OS MAIAS

— ­Sabes o que é pena? exclamou elle voltando-se de repente para Carlos. É que tu não tenhas um four-in-hand, um mail coach. Iamos todos d’aqui, cahia tudo de chic!

Carlos pensou tambem comsigo que era uma pena não ter um four-in-hand. Mas gracejou, achando mais em harmonia com o Jockey Club da travessa da Conceição irem todos dentro d’um omnibus.

Damazo voltou-se para o velho, deixando cahir os braços, descorçoado:

— ­Ahi está, sr. Affonso da Maia! Ahi está por que em Portugal nunca se faz nada em termos! É por que ninguem quer concorrer para que as cousas saiam bem... Assim não é possivel! Eu cá entendo isto: que n’um paiz, cada pessoa deve contribuir, quanto possa, para a civilisação.

— ­Muito bem, sr. Salcede! disse Affonso da Maia. Eis ahi uma nobre, uma grande palavra!

— ­Pois não é verdade? gritou Damazo, triumphante, a estoirar de goso. Assim eu, por exemplo...

— ­Tu, o quê? exclamaram dos lados. Que fizeste tu pela civilisação?...

— ­Mandei fazer para o dia das corridas uma sobrecasaca branca... E vou de véo azul no chapéo!

Um escudeiro entrou com uma carta para Affonso, n’uma salva. O velho, sorrindo ainda das idéas de Damaso sobre a civilisação, puxou a luneta, leu as primeiras linhas; toda a alegria lhe morreu no rosto, ergueu-se logo, tendo depositado cuidadosamente sobre a sua almofada o pesado Bonifacio.