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OS MAIAS

No centro, como perdido no largo espaço verde, negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente, com algumas carruagens pelo meio, d’onde sobresahiam tons claros de sombrinhas, o faiscar d’um vidro de lanterna, ou um casaco branco de cocheiro. Para além, dos dois lados da tribuna real forrada de um baetão vermelho de mesa de Repartição, erguiam-se as duas tribunas publicas, com o feitio de traves mal pregadas, como palanques d’arraial. A da esquerda vasia, por pintar, mostrava á luz as fendas do taboado. Na da direita, bezuntada por fóra d’azul claro, havia uma fila de senhoras quasi todas de escuro encostadas ao rebordo, outras espalhadas pelos primeiros degraus; e o resto das bancadas permanecia deserto e desconsolado, d’um tom alvadio de madeira, que abafava as côres alegres dos raros vestidos de verão. Por vezes a briza lenta agitava no alto dos dois mastros o azul das bandeirolas. Um grande silencio caía do ceu faiscante.

Em volta do recinto da tribuna, fechado por um tapume de madeira, havia mais soldados de infanteria, com as bayonetas lampejando ao sol. E no homem triste que estava á entrada, recebendo os bilhetes, mettido dentro d’um enorme collete branco, reteso de gomma, e que lhe chegava até aos joelhos — ­Carlos reconheceu o servente do seu laboratorio.

Apenas tinham dado alguns passos encontraram Taveira á porta do buffete onde se estivera reconfortando com uma cerveja. Tinha um molho de cravos amarellos ao peito, polainas brancas, — ­e queria animar