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OS MAIAS
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as corridas. Já vira a Mist, a egoa de Clifford, e decidira apostar pela Mist. Que cabeça d’animal, meninos, que finura de pernas!...

— ­Palavra que me enthusiasmou! E está decidido, um dia não são dias, é necessario animar isto! Aposto trez mil réis. Quer você Craft?

— ­Pois sim, talvez, depois... Vamos primeiro vêr o aspecto geral.

No recinto em declive, entre a tribuna e a pista, havia só homens, a gente do Gremio, das Secretarias e da Casa Havaneza; a maior parte á vontade, com jaquetões claros, e de chapéo côco; outros mais em estylo, de sobrecasaca e binoculo a tiracollo, pareciam embaraçados e quasi arrependidos do seu chic. Fallava-se baixo, com passos lentos pela relva, entre leves fumaraças de cigarro. Aqui e além um cavalheiro, parado, de mãos atraz das costas, pasmava languidamente para as senhoras. Ao lado de Carlos dois brazileiros queixavam-se do preço dos bilhetes, achando aquillo «uma semsaboria de rachar.»

Defronte a pista estava deserta, com a relva pisada, guardada por soldados: e junto á corda, do outro lado, apinhava-se o magote de gente, com as carruagens pelo meio, sem um rumor, n’uma pasmaceira tristonha, sob o peso do sol de junho. Um rapazote, com uma voz dolente, apregoava agua fresca. Lá ao fundo o largo Tejo faiscava, todo azul, tão azul como o ceu, n’uma pulverisação fina de luz.

O visconde de Darque, com o seu ar placido de gentleman louro que começa a engordar, veio apertar