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OS MAIAS

lheirismo» e «prudencia...» O jockey de paletot alvadio affastou-se, apoiado ao braço d’um amigo, cocheando, com o nariz a pingar sangue: e o commissario desceu para a pista, com um cortejo atraz, triumphante, sem collarinho, arranjando o chapéo achatado n’uma pasta. A musica tocava a marcha do Propheta; em quanto o desgraçado juiz das corridas, o Mendonça, encostado á tribuna real, com os braços cahidos, aparvalhado, balbuciava n’um resto d’assombro:

— ­Isto só a mim! Isto só a mim!

O marquez, n’um grupo a que se juntára o Clifford, Craft, e Taveira, continuava a vociferar:

— ­Então, estão convencidos? Que lhes tenho eu sempre dito? Isto é um paiz que só supporta hortas e arraiaes... Corridas, como muitas outras coisas civilisadas lá de fóra, necessitam primeiro gente educada. No fundo todos nós somos fadistas! Do que gostamos é de vinhaça, e viola, e bordoada, e viva lá seu compadre! Ahi está o que é!

Ao lado d’elle Clifford, que no meio d’aquelle desmancho todo esticava mais correctamente a sua linha de gentleman, mordia um sorriso, assegurando, com um ar de consolação, que conflictos eguaes succedem em toda a parte... Mas no fundo parecia achar tudo aquillo ignobil. Dizia-se mesmo que elle ia retirar a Mist. E alguns davam-lhe razão. Que diabo! Era aviltante para um bello animal de raça correr n’um hyppodromo sem ordem e sem decencia, onde a todo o momento podiam reluzir navalhas.

— ­Ouve cá, tu viste por acaso esse animal do Da-