Página:Os Maias - Volume 1.djvu/445

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
435

maso? perguntou Carlos, chamando para o lado o Taveira. Ha uma hora que ando a farejal-o...

— ­Estava ainda ha pouco do outro lado, no recinto das carruagens, com a Josephina do Salazar... Anda extraordinario, de sobrecasaca branca, e de véo no chapéo!

Mas, quando d’ahi a pouco, Carlos quiz atravessar, a pista estava fechada. Ia-se correr o Grande premio nacional. Os numeros já tinham subido ao indicador, um tom de sineta morria no ar. Um cavallo do Darque, o Rabbino, com o seu jockey de encarnado e branco, descia, trazido á redea por um groom e acompanhado pelo Darque: alguns sujeitos paravam a examinar-lhe as pernas, com o olho serio, affectando entender. Carlos demorou-se um momento tambem, admirando-o: era d’um bonito castanho escuro, nervoso e ligeiro, mas com o peito estreito.

Depois, ao voltar-se, viu de repente a Gouvarinho, que acabava de certo de chegar, e conversava de pé com D. Maria da Cunha. Estava com uma toilette ingleza, justa e simples, toda de cazimira branca, d’um branco de creme, onde as grandes luvas negras á mosqueteira punham um contraste audaz: e o chapéo preto tambem desapparecia sob as pregas finas d’um véo branco, enrolado em volta da cabeça, cobrindo-lhe metade do rosto, com um ar oriental que não ía bem ao seu narizinho curto, ao seu cabello côr de braza. Mas em redor os homens olhavam para ella como para um quadro.

Ao avistar Carlos, a condessa não conteve um sor-