Página:Os Maias - Volume 1.djvu/457

Wikisource, a biblioteca livre
OS MAIAS
447

tinham-se posto de pé nas carruagens. E atravez da collina, para ver a chegada, dous cavalleiros, segurando com as mãos os chapéos baixos, corriam á desfilada.

— ­Vladimiro! Vladimiro! foram de novo os gritos isolados, aqui, além.

Os dous cavallos approximavam-se, com um som surdo das patas, trazendo um ar de rajada.

— ­Minhoto! Minhoto!

— ­Vladimiro! Vladimiro!

Chegavam... De repente o jockey inglez de Vladimiro, todo em fogo, levantando o potro que lhe parecia fugir d’entre as pernas, esticado e lustroso, fez silvar triumphantemente o chicote, e d’um arremesso directo lançou-o além da meta, duas cabeças adiante de Minhoto, todo coberto d’espuma.

Então em volta de Carlos foi uma desconsolação, um longo murmurio de lassidão. Todos perdiam; elle apanhava a poule, ganhava as apostas, empolgava tudo. Que sorte! Que chance! Um addido italiano, thesoureiro da poule, empallideceu ao separar-se do lenço cheio de prata: e de todos os lados mãosinhas calçadas de gris-perle, ou de castanho, atiravam-lhe com um ar amuado as apostas perdidas, chuva de placas que elle recolhia, rindo, no chapéo.

— ­Ah, monsieur, exclamou a vasta ministra da Baviera, furiosa, mefiez-vous... Vous connaissez le proverbe: heureux au jeu...

— ­Helas! madame! disse Carlos, resignado, estendendo-lhe o chapéo.