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OS MAIAS

— ­Muito bonito, sim senhor!

O verniz dos moveis novos brilhava na luz das duas janellas, sobre o tapete alvadio semeado de florsinhas azues: e as bambinellas, os reposteiros de cretóne, repetiam as mesmas folhagens azuladas sobre fundo claro. Este conforto fresco e campestre deleitou o bom Villaça.

Foi logo apalpar os cretónes, esfregou o marmore da commoda, provou a solidez das cadeiras. Eram as mobilias compradas no Porto, hein? Pois, elegantes. E, realmente, não tinham sido caras. Nem elle fazia idéa! Ficou ainda em bicos de pés a examinar duas aguarellas inglezas representando vaccas de luxo, deitadas na relva, á sombra de ruinas romanticas. O Teixeira, observou-lhe, com o relogio na mão:

— ­Olhe que v. s.ª tem só dez minutos... O menino não gosta de esperar.

Então o Villaça decidiu-se a desenrolar o cache-nez; depois tirou o seu pesado collete de malha de lã; e pela camisa entreaberta via-se ainda uma flanella escarlate por causa dos rheumatismos, e os bentinhos de seda bordada. O Teixeira desapertava as correias da maleta; ao fundo do corredor, a rebeca atacara o Carnaval de Veneza; e atravez das janellas fechadas sentia-se o grande ar, a frescura, a paz dos campos, todo o verde d’abril.

Villaça, sem oculos, um pouco arripiado, passava a ponta da toalha molhada pelo pescoço, por traz da orelha, e ia dizendo:

— ­Então, o nosso Carlinhos não gosta de esperar,