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OS MAIAS

— Que te parece esta vida, meu amor? exclamou ella, apertando as mãos amargamente.

Carlos beijou-a em silencio, com os olhos humedecidos.

— Emfim tudo passou, continuou Maria Eduarda. Fez-se a paz, o cêrco acabou. Paris estava de novo aberto... Sómente a difficuldade era voltar.

— Como voltaste?

Um dia por acaso, em Regent-Street, encontrára um amigo de Mac-Gren, outro irlandez, que muitas vezes jantára com elles em Fontainebleau. Veio vêl-as a Soho; diante d’aquella miseria, do bule de chá aguado, dos ossos de carneiro requentando sobre tres brazas mortas, começou, como bom irlandez, por accusar o governo d’Inglaterra e jurar uma desforra de sangue. Depois offereceu, com os beiços já a tremer, toda a sua dedicação. O pobre rapaz batia tambem o lagedo n’uma lucta tormentosa pela vida. Mas era irlandez; e partiu logo generosamente, armado de todos os seus ardis, a conquistar através de Londres o pouco que ellas necessitavam para recolher a França. Com effeito appareceu n’essa mesma noite, derreado e triumphante, brandindo tres notas de banco e uma garrafa de champagne. A mamã ao vêr, depois de tantos mezes de chá preto, a garrafa de Clicquot encarapuçada de ouro — quasi desmaiou, de enternecimento. Enfardelaram os trapos. Ao partirem, na estação de Charing-Cross, o irlandez levou-a para um canto, e engasgado, torcendo os bigodes,