Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/117

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para si, para a historia, para a fé e para a sciencia um immenso imperio ultramarino. É um monge militar isolado no seu castello sobre o Oceano, como os primeiros mestres do Templo, seus antecessores, nos seus castellos da Palestina. A sua Jerusalem é a Aryn que elle procura ainda, talvez, no meio dos fogos da zona torrida, o seu Santo Sepulchro é esse mar immenso, onde se sepulta o sol, e de que elle affugenta, com a prôa das suas caravellas, como os Templarios os Sarracenos com a ponta das suas lanças, os pavores da superstição, os erros da sciencia e as illusões da fé.

Que outros condemnem esse implacavel sonhador que fechou a sua alma aos affectos humanos para todo se concentrar na paixão por um ideal que a um tempo o illumina e o allucina! Que outros lamentem esse egoismo de namorado, que o torna surdo para todas as supplicas e inaccessivel a todas as dedicações, mas que nós Portuguezes lhe regateemos a gloria, e lhe amesquinhemos o caracter, e lhe neguemos a indulgencia que a fraca humanidade deve ter com os defeitos que acompanham fatalmente as grandes qualidades, quando a esse egoismo sagrado, a essa perseverança intransigente devemos o termos dado ao mundo a mais assombrosa conquista, e termos conquistado para nós uma gloria que ainda hoje illumina as nossas ruinas, e dá á nossa decadencia a purpura e o oiro de um pôr