Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/133

Wikisource, a biblioteca livre
127

eximir-se a seguir tão mau exemplo! como se ao Papa, que representava a suprema lei moral da sociedade de então, não coubesse o dever de conceder as terras, mas de prohibir os escravos! como se não fosse evidente que o mesmo faria qualquer nação que nos precedesse, e que o facto de não apparecerem escravos pretos na Normandia no seculo XIV é mais uma prova contra as suas pretenções! E comtudo a prioridade na escravisação das populações africanas essa é que os Normandos podem reclamar sem contestação, porque, bastantes annos antes de se venderem nas praças de Lagos os escravos da costa africana, já o normando João de Bethencourt, rei das ilhas Canarias, vendêra na Hespanha os seus subditos.[1] Mas o que dominava sobretudo no espirito de D. Henrique era a anciedade da investigação scientifica e o ardor pela conquista dos grandes ideaes religiosos da meia edade, e é isso o que faz com que o espirito do infante só encontre depois na historia dos descobrimentos outro que com elle se irmane — o de Christovam Colombo. Essa allucinação em que ambos vivem é que os torna proprios

  1. Observação já feita pelo visconde de Santarem nas suas notas á edição da Chronica de Guiné de Azurara. Veja-se tambem o magnifico capitulo da Vida do principe Henrique do illustre escriptor Richard Major, capitulo intitulado The slave trade.