Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/139

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onde reinava a paz e a justiça.[1] O que deu origem talvez á carta, ou o que chamou para esse vago personagem do Presbyter Johannes ou Prestre Jean ou Prestes João a attenção dos povos occidentaes, foi a vinda a Roma[2] de um estranho personagem, que se dizia patriarcha das Indias, que da Asia vinha effectivamente, e que dava noticia da existencia n’essas remotas partes, ou na verdadeira India, ou na propria Tartaria, de christãos convertidos por S. Thomé o apostolo, e que eram evidentemente christãos da heresia nestoriana, christãos dos ritos syriacos, sacudidos da Egreja Catholica, mas possuindo aquella tenacidade de resistencia, que faz com que ainda hoje, em pleno regimen papal e catholico, tenham na India os seus prelados e mantenham os seus ritos estes christãos primitivos.[3] Assim parece effectivamente que devia ser: porque na carta do Prestes João diz-se que «cada anno, quando S. Thomé vinha prégar a quaresma no seu reino, elle fazia uma peregrinação ao tumulo do propheta Daniel, com dez mil clerigos, outros tantos cavalleiros e duzentos elephantes, que levam, não torres,

  1. Esta carta vem publicada na Cosmographie et histoire naturelle fantastique du moyen-âge de Ferdinand Denis.
  2. Por 1122, no pontificado de Calixto.
  3. Ainda na ultima concordata celebrada entre Portugal e a côrte de Roma ácerca do padroado da India tiveram de ser resalvados os direitos christãos do rito syriaco.