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Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/200

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e fazia-lh’o sentir Toscanelli.[1] Com os nossos descobrimentos se enlaçaram os seus, e, apesar de tudo, vê-se-lhe não sei que funda pena de não ter podido fazer a sua gloriosa descoberta nos navios da nação amada. «O rei de Portugal, diz elle n’uma carta escripta a Fernando o Catholico pouco tempo antes da sua morte, que entendia mais do que qualquer outro rei de descobertas de paizes desconhecidos, de tal fórma o cegou a vontade do Altissimo que, durante quatorze annos, não pôde comprehender o que eu lhe dizia.» E tão extranho lhe parece esse caso que o toma á conta de milagre, e diz que Nuestro señor le atajó la vista, el oido y todos los sentidos.[2] Não! a verdade era que a empreza de Colombo era a empreza de um allucinado de genio, de um homem em quem a imaginação predomina, de um visionario que tem visões lucidas, de um inspirado, de um louco, e homens assim não podem dirigir-se, sem ser repellidos, áquelles que teem o forte equilibrio de todas as faculdades, aos que se deixam guiar em vida não pelas columnas de fogo da visão biblica, nem pelas scintillações dos sonhos, mas

  1. «No me admiro tengais, diz-lhe Toscanelli na sua segunda carta, tan gran corazon como toda la nacion portugueza, en que siempre ha habido hombres señalados en todas emprezas.
  2. A carta é de maio de 1505, citada por Navarrete no t. III pag. 528, e Humboldt, t. III, pag. 260.