Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/85

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não admittia absolutamente a esphericidade da terra. Como varios outros geographos da edade média, que lhe tinham dado uns a fórma ovoide, outros a fórma de um cone ou de um pião[1], Christovão Colombo suppunha que ella teria a fórma de uma pera, e que junto do pé é que estava exactamente o Paraizo[2].

Tambem a esphericidade da terra era absolutamente contradictada pelos Santos Padres, que lhe davam a fórma de um quadrado ou de um parallelogrammo, fórma emfim que se assemelhasse á do Tabernaculo de Moysés. Desdenhando a idéa scientifica oriunda dos Gregos, e sustentada pelos Arabes, vindo talvez para uns e para outros dos orientaes, de que o centro do mundo era Aryn, d’onde se principiavam a contar as latitudes e longitudes, que ficava exactamente a 90° de cada um dos pontos cardeaes,

  1. Lemos n’um manuscripto cosmographico datando d’essa epocha (seculo VII) «que a terra é da forma de um cone ou de um pião, de forma que a sua superficie vai, segundo esse systema, elevando-se do sul para o norte.» Visconde de Santarem, Essai sur l’histoire de la cosmographie, etc., tom. II.Int. pag. LX. A fórma ovoide era-lhe attribuida pelo philosopho grego Thalés, seguido por alguns geographos da edade média. Posidonius dava-lhe a fórma de uma funda, como Prisciano tambem.
  2. N’uma carta de 1498, publicada por Navarrete, tom. I, pag. 256, compara Colombo a terra com uma pera dividida ao meio, sendo uma parte redonda, e a outra terminada em cone. Esta carta vem tambem nas Select letters of Christopher Columbus, publicadas por Major, pag. 130. (Londres, 1847).