Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/84

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Colombo, cuja alma enthusiastica se deixava invadir facilmente pelas seducções do mysticismo, e que tinha a fé ardente que foi um dos principaes elementos do seu triumpho, nutria a secreta esperança de chegar a esse Paraizo cubiçado, como contava encontrar n’esse Cathay maravilhoso os capitaes indispensaveis para a reconquista do sepulchro de Christo. Era logica a sua esperança. Se elle, partindo do Occidente, esperava chegar ao extremo Oriente, se no extremo Oriente estava o jardim de delicias em que Deus collocara os nossos primeiros paes, como podia duvidar de que o encontraria? Quando na sua terceira viagem chegou á bocca do Orenoque imaginou ter finalmente chegado ao Paraizo terrestre, não pela formosura das paizagens e pela abundancia da vegetação, mas porque, vendo a torrente das aguas do grande rio, suppoz que era um dos que borbulhavam da elevada montanha do Paraizo terrestre[1]. Christovão Colombo

  1. «Para elle (Colombo) o Paraizo Terrestre correspondia ao castello de Kang — diz dos Persas, e devia achar-se n’um logar elevado e inaccessivel.» — Reinaud Géographie d’Aboulféda, tom. I, pag. 252. «A corrente do Orenoque é tão forte que Diogo de Lepe reconheceu por meio de um escalfador que só se abria no fundo das aguas, no mar defronte da foz de Orenoque, que, n’uma profundidade de oito braças e meia, só as duas primeiras braças do fundo eram de agua salgada, e as outras de agua doce». — Humboldt, Histoire de la géographie, etc., t. I, pag. 314.