Página:Os descobrimentos portuguezes e os de Colombo.djvu/96

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S. Brandão e Purgatorio de S. Patricio, iam juntar-se ás ilhas conjecturaes dos sabios e ás ilhas tradicionaes da mythologia antiga para formarem esses archipelagos do sonho e da lenda que se desfizeram em fumo quando das aguas surgiram, envoltas no seu manto de verdura, ou na sua armadura de rochedos vulcanicos, palpitantes ainda com o fogo que lhes lavrava nas entranhas, ou carregadas com a immensa e luxuriante cabelleira das intactas florestas, as ilhas reaes e verdadeiras.

Esse sonho das ilhas phantasticas podia não ser senão um estimulo para cavalleiros denodados que não temiam os encantamentos, logo que levavam comsigo as espadas bentas e a cruz do Salvador. Com o coração a bater-lhes um pouco, pallidos de supersticioso terror, mas incitados pelas tentações das sobre-naturaes aventuras, arrojar-se-hiam tanto os celtas da Irlanda como os celtas de Portugal aos mares mysteriosos em demanda das ilhas paradisiacas; outros encontraram tambem no caminho as ilhas infernaes, mas a lenda do mar Tenebroso essa é que deveras regelava o sangue nas veias do mais audacioso. Vinha dos antigos, e mais tambem dos Arabes. Como é que os poetas antigos, ao passo que devaneavam como Seneca no côro da Medéa, que para além do Oceano haveria terra incognita, suppunham que n’esses mares longinquos se perdêra a luz do sol e um manto espesso de trevas se desenrolava