Tangrouille, Tancarville provavel e Montmorency possivel, tinha esta antiga qualidade de fidalgo, defeito grave n’um timoneiro; embriagava-se.
O Sr. Clubin teimava em conserval-o. Respondia por elle a mess Lethierry.
O timoneiro Tangrouille não sahia nunca do navio e dormia a bordo.
Na vespera da partida, quando o Sr. Clubin foi, já a horas mortas, visitar o navio, Tangrouille estava na sua maca e dormia. Acordou de noite. Era-lhe isso costume antigo. Quando o bebado não é senhor de si tem um esconderijo. Tangrouille tinha o seu, a que chamava dispensa. A dispensa secreta de Tangrouille era no porão onde se guardava a agua. Pol-a ahi para tornal-a inverosimil. Estava certo de que só elle conhecia aquelle esconderijo. O capitão Clubin era severo, porque era sobrio. O pouco rhum e gin que o timoneiro podia subtrahir á vigilancia do capitão, punha de reserva naquelle mysterioso cantinho, no fundo de uma celha de sonda, e quasi todas as noites tinha entrevista amorosa com aquella dispensa. Era rigorosa, a vigilancia, pobre devia ser a orgia, e de ordinario os excessos nocturnos de Tangrouille limitavam-se a dous ou tres goles furtivamente bebidos. Muitas vezes a dispensa estava vasia. Nessa noite Tangrouille achou lá uma garrafa de aguardente inesperada. Alegrou-se muito, e espantou-se ainda mais. De que céos lhe cahio aquella garrafa? Não pôde lembrar-se nem quando nem como levou-a para o navio. Bebeu-a immediatamente. Em parte fêl-o por prudencia: tinha medo que a aguardente fosse descoberta