Página:Os trabalhadores do mar.djvu/27

Wikisource, a biblioteca livre
— 19 —

mia-se na terceira. Subia-se ao celleiro por uma escada. A mulher cozinhava e ensinava a lêr ao filho. Nunca ia á igreja, e isto, depois de muito considerado, servio para que a declarassem franceza. Não ir a parte alguma, é cousa grave.

Em summa, era gente que nada inculcáva.

É provavel que fosse franceza. Os vulcões arrojam pedras, as revoluções homens. Espalham-se familias a grandes distancias, deslocam-se os destinos, separam-se os grupos dispersos<ref>disperos no original, erro tipográfico. ás migalhas; cahe gente das nuvens, uns na Allemanha, outros na Inglaterra, outros na America. Pasmam os naturaes dos paizes. Donde vem estes desconhecidos? Foi aquelle vesuvio, que fumega além, que os expellio de si. Dam-se nomes a esses aerolithos, a esses individuos expulsos e perdidos, a esses eliminados da sorte; chamam-nos emigrados, refugiados, aventureiros. Se ficam, toleram-nos: alegram-se quando elles vão embora. Algumas vezes são entes absolutamente inoffensivos, estranhos, as mulheres ao menos, aos acontecimentos, que os proscreveram, não tendo rancores nem colera, projectis contra a vontade, espantadissimos de o serem. Enraizam-se como podem. Não faziam mal a ninguem e não comprehendem o que lhes acontece. Vi um dia uma pobre mouta de hervas atirada aos ares pela explosão de uma mina. A revolução franceza, mais do que nenhuma explosão, fez desses jactos longinquos.

A mulher, que em Guernesey era conhecida pela Gilliatt, foi talvez aquella mouta de herva.

Envelheceu a mulher. Cresceu o menino. Viviam ambos sós; todos fugiam delles mas elles basta-