uma agua incommensuravel, ouviam-se fogos de pelotão no firmamento. Havia no meio do tecto de sombra uma especie de vasta alcofa virada, donde cahiam em confusão, a tromba, a chuva, as nuvens, as côres rubras, os relampagos, a noite, a luz, os raios, tão formidaveis são essas inclinações do golphão!
Gilliatt parecia não attender a nada. Tinha a cabeça inclinada no trabalho. A segunda claraboia começava a levantar-se. A cada trovão respondia elle com uma martellada. Ouvia-se essa cadencia naquelle cahos. Estava com a cabeça descoberta. Uma lufada levou-lhe o chapéo.
Tinha uma sêde ardente. Provavelmente estava com febre. Lagoinhas de chuva tinham-se formado á roda delle nas covas do rochedo. De quando em quando tirava agua com a palma da mão e bebia. Depois, sem examinar em que ia a tempestade, continuava a obra.
Tudo podia depender de um instante. Sabia o que o esperava se não terminasse a tempo o quebra-mar. Porque motivo perder um minuto para ver approvimar-se a face da morte?
A desordem em torno delle era como uma caldeira fervendo. Havia fracasso e motim. Ás vezes o raio parecia descer uma escada. As percursões electricas voltavam constantemente aos mesmos pontos do rochedo. Haviam pedras de chuva da grossura de uma mão fechada. Gilliatt era obrigado a sacudir as dobras da japona. Até as algibeiras tinham pedras.
O temporal estava já no oeste, e batia o tapamento das duas Douvres; mas Gilliatt tinha confiança