Página:Paquita; poema em XVI cantos, Bulhão Pato, 1894.djvu/58

Wikisource, a biblioteca livre
20
PAQUITA

Fica certo que não; e vais agora
Escutar a razão porque asseguro
Que a minha fada poucas vezos chora.
Se uma nuvem lhe tolda o rosto puro,
É rara sempre, como as nuvemzinhas
Que se dissipam ao brilhar da aurora!


É que esta singular ficção divina,
Que enamora o prazer, o mundo, a vida;
Que me anima a existencia, e me illumina
De vivissima luz;—esta querida
Companheira dos meus primeiros annos,
Que me foi pelos anjos concedida,—


Descendo á terra, fulgurante e bella
Pousou no Pindo. Era uma noite amena.
De quando em quando vinha em torno d'ella
A doce aragem murmurar serena,
E sobre as aguas por instantes, trémulo,
Fulgia o lume de brilhante estrella;