dum menino apareceu. Apareceu, espiou de todos os lados e pulou para dentro do quarto, sem fazer o menor barulho.
— "Sininho, Sininho! Onde está você, Sininho? indagou ele em voz bem baixa.
— "Tlin, tlin, tlin, foi a resposta da bola de fogo, lá dentro da gaveta.
O menino dirigiu-se pé ante pé na direção dos tlins, abriu a gaveta e remexeu-a toda, até encontrar a cabeça da sombra. Pela cara alegre que fez via-se que era o dono dela.
— Que engraçado! exclamou Emilia. Só agora noto que todos nós temos a nossa sombra, que é só nossa e de ninguem mais. Infelizmente a minha sombra não é de gaze, como a desse menino. E' de ar preto.
— E que fez ele, vóvó, depois de achar a sombra? perguntou a menina.
— Que fez? Tirou-a da gaveta, desdobrou-a e tratou de emenda-la no resto, porque desde que a senhora Darling desceu a janela ele ficou com a sombra sem cabeça — ou decapitada. Mas isso de emendar sombra não é coisa facil. Exige pratica. O menino tentou primeiro gruda-la com cuspo. Não grudou. Lembrou-se de a colar com sabão. Tambem não colou. O menino ficou atrapalhado.
— Se fosse eu, disse Emilia, experimentava uma bisnaga de Cola-Tudo. O que cola tudo, deve colar sombra tambem.
— E onde achar a tal bisnaga de Cola-Tudo?
— Toda as nurserys devem ter uma bisnaga de Cola-Tudo para colar os brinquedos. Eu, se fosse a senhora Darling...
— Está bem, Emilia, mas páre de falar. Não atrapalhe mais. Continue, vóvó.
Dona Benta continuou :