Página:Peter Pan (Lobato, 1935).pdf/31

Wikisource, a biblioteca livre
34
PETER PAN

Justamente naquela hora a senhora Darling estava na sala de jantar contando ao marido a historia da sombra. O senhor Darling sorria.

— "Impossivel, querida. Isso ha de ser sonho. E' um absurdo.

Nisto soou o prrrrr... Julgando que fosse alguma coruja que houvesse entrado na nursery, a senhora Darling correu para lá. Ao ver a janela aberta e as tres camas vazias, deu um grito e desmaiou.


Neste ponto dona Benta interrompeu a historia, deixando o resto para o dia seguinte. Todos gostaram muito daquele começo e Narizinho observou que as historias modernas são mais interessantes que as antigas.

— Estou notando isso, vóvó, disse ela. Nas historias antigas, de Grimm, Andersen, Perrault e outros, a coisa é sempre a mesma — um rei, uma rainha, um filho de rei, uma princesa, um urso que vira principe, uma fada. As historias modernas variam mais. Esta promete ser muito boa. Peter Pan está com jeito de ser um diabinho levado da breca.

Dona Benta concordou que sim.

— Eu só não entendo uma coisa, disse tia Nastacia. Como é que a tal senhora... como é mesmo?

— Darling.

— Isso. Não entendo como é que a senhora Darli foi deixar a janela aberta. Quarto de criança a gente não deixa de janela aberta nunca. Entra morcego, entra coruja — e entram até esses diabinhos, como o tal Peter Pan.

— Boba! exclamou Emilia. Se ela não deixasse a janela aberta não podia haver essa historia. Se você fosse a mãe dos meninos deixava a janela fechada, não é? E que acontecia ? Cortava a cabeça da historia já no começo.

— Estou desconfiado, disse Pedrinho, que o tal pó magico de Peter Pan era o nosso pó de Pirlimpimpim.