— E quem nos garante que o tal Peninha, que deu a você o pó de Pirlimpimpim, não seja esse mesmo Peter Pan? Aquela historia do Peninha ser invisivel com certeza foi arteirice de Peter Pan para nos empulhar.
— Pode ser. Tudo pode ser, concordou Pedrinho, pensativo.
Houve um silencio. Cada qual pensava numa coisa. Tia Nastacia pensava na franga que teria de matar para o almoço do dia seguinte. Dona Benta pensava num remendo a fazer no paletó de Pedrinho. Pedrinho pensava num jeito de arranjar mais pó de Pirlimpimpim. Narizinho pensava num meio de fazer Peter Pan vir visita-la no sitio. O visconde não pensava em coisa nenhuma. E Emilia?
Emilia saira da sala pé ante pé sem que ninguem percebesse, e logo depois voltou com a tesoura de dona Benta na mão. E deu jeito de cortar a cabeça da sombra de tia Nastacia, que enrolou e foi guardar no fundo de uma gaveta.
Ninguem percebeu a manobra, mas quando chegou a hora de recolherem-se e tia Nastacia foi apagar o lampião:
— Ué! exclamou ela espantadissima, vendo projetar-se na parede a sua sombra sem cabeça. Que coisa, santo Deus! Será que perdi minha cabeça?
E apalpou-se para verificar se estava mesmo sem cabeça. Só então se lembrou da passagem contada por dona Benta, e viu que alguem lhe havia cortado a cabeça da sombra.
— Isso tambem é demais! gritou ela. E' judiação. Cortar a cabeça da sombra duma pobre negra velha que nunca fez mal nem a um mosquito... Mas quem foi o malvado?
Olhou para a cara de Pedrinho, de Narizinho, do visconde e da Emilia e não viu em nenhum deles o menor ar de criminoso. Emilia, sobretudo, estava com uma