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PETER PAN

Todos se sentaram em redor dela e dona Benta começou:

— Essa Terra do Nunca, onde Peter Pan vivia com os meninos perdidos, era bem longe — e muito linda terra. Na frente havia uma grande floresta, que naquela estação do ano estava despida de todas as suas folhas e recoberta de neve branquinha. Nem para remedio era possivel encontrar uma só folha verde. Do lado direito havia um enorme lago, no qual boiavam pedaços de gelo, como ilhinhas flutuantes. Era nesse lago que navegavam os navios dos piratas. Do lado esquerdo ficava uma aldeia de Peles Vermelhas, isto é, indios norte americanos de nariz recurvo, cocar de penas na cabeça, cachimbo da paz na boca e sempre em atitudes calmas. Viviam em silencio e em descanso sempre, de cócaras, como os nossos caboclos do mato.

As casas desses indios eram em forma de tenda arabe.

— Eu sei, interrompeu Pedrinho. A tal tenda arabe tem a forma dum cartucho achatado, ou dum funil sem o bico.

— Pois é, confirmou dona Benta. Viviam nesses funis sem bico e em vez de cacique eram governados por uma india muito valente, de nome Pantera Branca.

— A senhora não disse o que havia nos fundos da Terra do Nunca, reclamou Pedrinho.

— Nos fundos ficava um deserto de neve que os lobos famintos percorriam em bandos uivantes. Pois bem: os meninos perdidos moravam perto dos indios, longe dos piratas e longissimo dos lobos famintos.

— Moravam como?

— Numa caverna subterranea, sem porta de entrada.

— E de que modo entravam na caverna?

— De um modo muito interessante. Em cima da caverna o chão era como ali no terreiro — liso, sem sinal