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PETER PAN

— Dá na mesma, insistiu Emilia. Eu quero dizer cachorro do mar e tenho minhas razões. Mas sempre que aparece um desses cachorros do mar, vem logo praga, e de milhões. Com trezentos milhões de caravelas! Com seiscentos milhões de baleias! E' milhão que não acaba mais.

— Sim, disse dona Benta, mas repare que é sempre praga de milhões apenas. Só esse Capitão Gancho usava as tais pragas de bilhões, e porisso ficou terrivel. Um bilhão compõe-se de cem milhões. Ora, quando ele praguejava com seiseentos bilhões de demonios, como fez em relação a Peter Pan, esse numero queria dizer seiscentas centenas de milhões, ou seiscentos montes de cem milhões cada um. Eu até creio que ele não era forte em arimetica, pois é impossivel que haja tantos demonios assim.

— Crédo! exclamou tia Nastacia persignando-se. Um demonio já deixa a gente tonta, como aquele Lucifer que fez a revolução dos anjos lá no ceu e foi jogado no inferno. Imaginem agora seiscentos montes de não sei quantos cada um. Crédo...

— Continue, vovó, pediu Narizinho. O Capitão Ganchosentou-se no chapeu-de-sapo e depois?

Sentou-se e logo deu um pulo, porque o tal chapeu-de-sapo estava quente como chapa de fogão. Furioso da vida, ele pregou um tremendo pontapé no coitado, fazendo-o voar dali com um som metalico. Aquele som abriu os olhos do pirata.

— "Hum ! exclamou ele, percebendo que não era chapeu-de-sapo natural e sim uma ponta de