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PETER PAN
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chaminé que saia de dentro da terra e tinha a fórma de chapeu-de-sapo. Oitocentos bilhões de diabos me assem vivo em todos os fogos do inferno, se isto não é arteirice do senhor Peter Pan e mais os seus meninos perdidos! Descobri tudo! Eles moram aqui em baixo, nalguma caverna subterranea.

Disse e pôs-se a examinar o terreno, dando pancadas no solo com o nó dos dedos, como fazem os medicos para examinar o pulmão dos doentes. O som era de terra óca em baixo. O chefe dos piratas ficou radiante. Tinha descoberto o esconderijo dos meninos e agora iria caça-los como se caçam ratos. Pôs-se a examinar o terreno. Viu que não havia entrada nenhuma afora os ôcos das arvores. Tentou entrar por um deles (justamente o ôco de Bicudo) e entalou. Não cabia. Ficou danado, espirrou mais alguns bilhões de demonios e teve uma ideia sinistra.

— "Achei o meio! exclamou. Mando preparar um grande pão-de-ló bem bonito por fóra e bem cheio de veneno por dentro. Ponho o pão-de-ló ali naquela pedra e vou ficar espiando de longe. Os meninos perdidos não têm mães para lhes ensinar o que devem e o que não devem comer, de modo que logo saem da caverna e se lançam sobre o doce como lobos famintos e eu terei o gosto de vê-los morrer a peor das mortes.

Em seguida deu uma ordem ao tenente do bando.

— "Olá, Capacete! Diga ao cozinheiro que prepare um pão-de-ló bem grande e bem bonito e que ponha dentro...

Não pôde terminar. Um tic-tac muito seu conhecido fez-se ouvir perto.

— "O crocodilo! berrou o chefe dos piratas, disparando na fuga a todo galope, seguido pelo bundo inteiro e logo se sumiram no horizonte dentro duma nuvem de pó. O crocodilo, tic-tac, tic-tac, os acompanhou sem