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PETER PAN
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Peter Pan, entretanto, já havia descoberto o melhor meio de assustar lobo faminto. Consiste em sair ao encontro deles de costas, com a cabeça entre as pernas. Os lobos entreparam, desnorteados, não podendo compreender que especie de animal é aquela, e depois fogem com maior velocidade ainda do que a do Capitão Gancho ao ouvir o tic-tac de crocodilo.

Assim que os lobos famintos chegaram a uma certa distancia, os seis meninos, guiados por Bicudo, correram-lhes ao encontro de costas, com a cabeça entre as pernas. Foi uma beleza! Os lobos entrepararam uns segundos e em seguida voltaram-se nos pés e sumiram-se dentro da floresta.

Ora graças! Os meninos perdidos podiam afinal brincar sossegadamente de pegador ou chicote queimado á luz do lindo luar que estava fazendo. Mas não brincuram, porque Cachimbo lhes chamou a atenção para qualquer coisa que vira no ceu.

— "Olhem! Lá vem voando para o nosso lado uma especie de passaro branco bem grande...

Todos ergueram o nariz e arregalaram os olhos. Não podiam compreender que passaro era aquele. Não parecia garça, nem outra qualquer ave conhecida. Subito, uma bola de fogo riscou o ar, vindo descer bem no meio deles. Era a fada Sininho.

— "Peter Pan manda dizer, declarou ela nervosamente na sua linguagem do tlin, tlin, tlin, que é preciso matar quanto antes essa ave que vem vindo.

Cachimbo, o melhor atirador do grupo, desceu imediatamente ao subterraneo, donde voltou com um arco e uma flecha. Ajustou a flecha ao arco, fez pontaria, esticou a corda e — zuqt! A flecha lá se foi assobiando e deu certinha no alvo. A ave branca vacilou no vôo, cambaleou, descreveu um parafuso e veio cair junto ao grupo. Todos correram para apanha-la.