Página:Peter Pan (Lobato, 1935).pdf/52

Wikisource, a biblioteca livre
CAPITULO III


A LAGOA DAS SEREIAS



NA terceira noite tia Nastacia apareceu na sala ainda mais desapontada do que na vespera. O que estava acontecendo com a sua pobre sombra era simplesmente monstruoso.

— Veja, sinhá, disse ela para dona Benta, colocando-se entre a parede e o lampião, de modo a tornar a sombra bem visivel. Veja, sinhá, como está toda rendadinha a minha sombra. O ladrão, que hontem me cortou a cabeça dela e um pedaço do hombro, acaba hoje de cortar uma porção de outros pedacinhos.

Realmente assim era. O resto da sombra da pobre negra estava cheio de buracos feitos a tesoura.

— E' um misterio que não consigo decifrar, disse dona Benta sacudindo a cabeça. O visconde, que é um grande sherlock, bem que podia tomar conta deste caso. Fale com ele.

Tia Nastacia conferenciou com o visconde, obtendo do grande detective a promessa de "investigar".

— Deixe a coisa comigo, disse ele. Já resolvi aquele celebre caso do falso gato Felix e posso muito bem resolver este caso do ladrão de sombras. Deixe a coisa comigo.

Liquidado o incidente, dona Benta retomou a historia de Peter Pan no ponto em que a tinha deixado na vespera.

— Onde estavamos, mesmo? perguntou ao sentar-se em sua cadeira de pernas serradas.

— Os meninos perdidos haviam construido a casinha de Wendy e todos dormiram dentro dela, menos Peter Pan, que ficou de guarda, lembrou Narizinho.